[33] A ler nos apaixonamos (III)
E ela respondeu com o seguinte:
«Caro Senhor, lamento só agora responder à sua missiva. E peço-lhe que releve. Pois foi por uma causa honesta. Fico envergonhada só de o imaginar a escrever todas aquelas coisas! Olho para os meus familiares, amigos, inimigos, fãs e críticos e confesso que jamais me ocorreu ser olhada com essa profundidade. Você escreveu aquilo que eu sou! Apaixonei-me pela sua carta. Li, reli, porventura tresli, rendida à evidência.
Sempre desejei, sabe Deus com que intensidade!, seduzir quem me lê! Sempre sonhei secretamente ser a causa dos ciúmes de todos os maridos e de todas mulheres; desde que me lembro, sempre quis arrebatar quem passava os olhos pelas páginas que um dia escreveria. Sempre pensei, embora nunca o admitisse de viva voz, que seria a causa e o remédio de todos os males. E finalmente, suprema glória e prazer, queria que me amassem. É uma palermice, mas é verdade.
Acabei por admitir duas coisas: que não posso querer sempre mais, sob pena de nunca ter o suficiente; e que nunca conseguirei escrever de forma a conquistar tudo e todos.