[32] A ler nos apaixonamos (II)
Avistei-a ao longe numa alameda outonal a passear um labrador de expressão ansiosa e terna. Eu regressava do supermercado. Quando me cruzei com ela, já tinha uma bolacha na mão para oferecer ao cão. Era a minha oportunidade! O cão aproximou-se e não se armou em esquisito como aqueles que cheiram, dão uma volta, cheiram outra vez e só então se decidem. Foi lesto e eficaz. Dei-lhe a segunda bolacha e fitei-a, firme e seguro. Ela devolveu-me uma expressão entre a timidez e a surpresa. Caiu sobre nós um silêncio hesitante, em viagem entre a simpatia e o agradecimento. E à medida que o silêncio se alongava, tornou-se intenso. Eu olhava e ela correspondia por detrás de uns óculos escuros. Não trocámos uma palavra, mas permutámos uns sorrisos.
Aquele momento foi demasiado poderoso para o largar na porta de casa. Ficou-se-me colado na cabeça e adormeci e acordei com ele nas semanas seguintes.
Decidi-me a enviar-lhe um e-mail. Contactei a editora e eles indicaram-me uma caixa de correio electrónico dedicada aos fans. Mas não me importei. Desde aquela tarde passei a ter um estatuto diferente. Primus inter pares! Apesar de me sentir impelido a escrever uma manta de tiradas líricas, controlei a emoção, como um bom poeta faria, e redigi um texto emocionado, embora ponderado, sobre a poesia dela.
E ela respondeu...