Quem foi ou tenciona ir ao México, deve saber que existe um comboio chamado "La Bestia", que além de sonhos e desejos, também carrega violência e terror durante o seu itinerário.
Lydia vive em Acapulco, é casada e mãe de Luca, de 8 anos. O marido de Lydia é jornalista e depois de escrever um artigo sobre a vida de um traficante de droga mexicano, este manda dizimar toda a família. Apenas Lydia e o filho escapam. O destino da fuga é os Estados Unidos. Têm de o fazer clandestinamente. A via mais segura é La Bestia.
"Luca steps in between the men and his mother, not from any real sense of martyrdom, but because he’s observed that, on occasion, the presence of children serves to inhibit people’s bad behavior. He tugs on Mami’s hand, and together they get moving." (p. 127)
Na semana que antecede o Natal, e num ano em que tantas e tão diversas coisas aconteceram, a que me paralisou foi a leitura do livro A Fera na Selva, de Henry James. Já nem sei como ali fui parar, possivelmente procurava um livrinho curto, de leitura ligeira, com um princípio onde se pressentisse o fim. Não me saiu nada daquilo.
A história, ou melhor, o cerne de tudo, começa neste lembrete de May Bartram a John Marcher, sobre uma conversa que tiveram 10 anos antes: "Disse-me que tivera desde sempre, como aquilo que lhe era mais profundo, a sensação de que lhe estava reservado algo de muito invulgar e estranho, ou maravilhoso e terrível, que mais tarde ou mais cedo iria acontecer" (p. 20).
Portanto, decorrida aquela dezena de anos, Marcher continuava a confiar nos deuses, que o mesmo é dizer, no destino, pois este se encarregaria de lhe transformar a vida. A vida, essa coisa banal, normal e sem história, seria substituída por algo extraordinário. Pensava ele. Marcher acreditava que os homens admirados por toda a gente, que venceram duelos e foram amados por princessas, teriam começado por se considerarem a eles próprios prodigiosos. E era isso mesmo que Marcher se sentia - prodigioso. E mais ninguém pensava isso dele.
E esperou. E esperou.
"O fracasso resumia-se a não ter sido nada." (p. 52)