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pólo sul

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Ter | 14.12.10

[92] desassossego, o livro

polosul

Ao subir o Mekong, no Laos, um basco sacou da mochila o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, e disse-me que viajava sempre com ele. Passou-me o livro e abri-o numa página que dizia o seguinte:

 

Cada vez que viajo, viajo imenso. O cansaço que trago comigo de uma viagem de comboio até Cascais é como se fosse o de ter, nesse pouco tempo, percorrido as paisagens de campo e cidade de quatro ou cinco países.

      Cada casa por que passo, cada chalé, cada casita isolada caiada de branco e de silêncio - em cada uma delas num momento me concebo vivendo, primeiro feliz, depois tediento, cansado depois; e sinto que tendo-a abandonado, trago comigo uma saudade enorme do tempo em que lá vivi. De modo que todas as minhas viagens são uma colheita dolorosa e feliz de grandes alegrias, de tédios enormes, de inúmeras falsas saudades.

     Depois, ao passar diante de casas, de vilas, de chalés, vou vivendo em mim todas as vidas das criaturas que ali estão. Vivo todas aquelas vidas domésticas ao mesmo tempo. Sou o pai, a mãe, os filhos, os primos, a criada e o primo da criada, ao mesmo tempo e tudo junto, pela arte especial que tenho de sentir ao mesmo [tempo] várias sensações diversas, de viver ao mesmo tempo - e ao mesmo tempo por fora, vendo-as, e por dentro sentindo-as - as vidas de várias criaturas.

Ter | 14.12.10

[91] a vida aos pares

polosul

De Battambang para Siem Reap, com passagem pelo lago Tonle Sap, encontrei dois pares de aves que conjugaram num breve momento uma das metáforas mais interessantes da vida: