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pólo sul

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Seg | 15.11.10

[90] adeus

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João Serra, o senhor do adeus, morreu.

 

Excerto de notícia do Público:

Souberam por amigos, por SMS ou através do apelo lançado no Facebook. Mais de uma centena de pessoas reuniu-se na noite de quinta-feira, a partir das 22h00, na praça Duque de Saldanha, no centro de Lisboa, para acenar aos carros, tal como o Senhor do Adeus fazia “desde sempre”.

(...)

Mais atrás, estava o escritor Rui Zink. “Este é o melhor velório a que vim nos últimos anos. E eu já estou a ficar habituado a velórios. Provavelmente é o melhor a que alguma vez irei”.

 

Uma vez passei por ele e timidamente acenei-lhe. Senti-me num despropósito: "Porque raio faço adeus a um desconhecido!?"

Ele respondeu com um sorriso de compreensão pelo meu constrangimento. Fiquei aliviado e estupidamente orgulhoso.

Seg | 15.11.10

[89] can`t get enough

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We walk together, we're walking down the street
And I just can't get enough, I just can't get enough
Every time I think of you I know we have to meet
And I just can't get enough, I just can't get enough


Depeche Mode. Tb por Nouvelle Vague.

Ter | 09.11.10

[87] as mais belas declarações

polosul
 
Enquanto estava incauto a ver os barcos a passar, ela afirmou: tenho conversa contigo até ao fim da vida.
Senti um calafrio, um arrepio, um espinho, um engulho - benditos sinónimos!
Onde antes havia euforia e deleite, apareceu uma serra, escura e enigmática.
Conversa até ao fim da vida... E quanto tempo durará? E a responsabilidade que é, que seria?
 
Que fazer, quando acordarmos um dia e nada, nada, mas mesmo nada, tivermos a sentir ou a dizer um ao outro que não seja mais do que repisar frases batidas?
 
Vou conseguir manter aquele interesse quando ela descobrir que afinal as minhas tiradas originais são plagiadas ou adaptadas? que os aforismos não são meus? que as frases lapidares copiei-as? que as ideias, as boas e interessantes ideias, afinal foram retiradas dos livros mais populares de auto-ajuda? que as frases, enamoradas e exuberantes, foram sacadas dos clássicos da literatura de cordel? que os sms matinais e amorosos imitam twitters dedicados ao nicho do engate e da sedução?
Ela perdoará a falta de originalidade e imaginação?
Não.
Mas perdoa se for sincero e aquilo reproduzir o que sinto por ela.
Dom | 07.11.10

[86] as palavras

polosul


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

 

Eugénio de Andrade

Sab | 06.11.10

[85] intraduzível

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Parece-me que é disto que o livro também trata, além, evidentemente, de ser uma espécie de rapsódia sobre Bhutto e Zia Ul Haq.

 

«To unlock a society, look at its untranslatable words. Takallouf is a member of that opaque , world-wide sect of concepts which refuse to travel across linguistic frontiers: it refers to a form of tongue-tying formality, a social restraint so extreme as to make it impossible for the victim to express  what he or she really means, a species of compulsory irony which insists, for the sake of good form, on being taken literally. When takallouf gets between a husband and a wife, look out.» (p. 104)

 

Sab | 06.11.10

[84] vegetal e só

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É outono, desprende-te de mim.

 
Solta-me os cabelos, potros indomáveis

sem nenhuma melancolia,

sem encontros marcados,

sem cartas a responder.

 
Deixa-me o braço direito,

o mais ardente dos meus braços,

o mais azul,

o mais feito para voar.

 
Devolve-me o rosto de um verão

Sem a febre de tantos lábios,

Sem nenhum rumor de lágrimas

Nas pálpebras acesas

 
Deixa-me só, vegetal e só,

correndo como rio de folhas

para a noite onde a mais bela aventura

se escreve exactamente sem nenhuma letra.

 
Eugénio de Andrade