[78] Uma morada nova
Distraído, li um artigo, pequenino, algures numa estrada ameaçada pelo mato, num desses países do sul. Era sobre Mia Couto.
Depois, inesperadamente, ao norte, numa conversa de circunstância e aperitivo antes do jantar, falaram-me das infinitas possibilidades das crianças de reinventarem o português, tal como o faz Mia Couto.
Lentamente, puxei a memória atrás e repesquei aquele texto sobre o que representou a vitória de Obama para os sobas africanos. Era do Mia Couto.
Nunca houvera lido algo mais dele que artigos e entrevistas, algumas destas também escutadas e vistas na rádio e televisão.
Peguei, céptico, em "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", e começa assim: «A morte é como o umbigo: o quanto nela existe é a sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência.»
Pareceu-me interessante e continuei.
«O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.» (p. 53).
E com isto apaguei a luz e fiquei longo tempo sem dormir.