Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

pólo sul

pólo sul

Dom | 13.01.08

[65] Poemas de amor!?

polosul

 

A Assírio & Alvim publicou há uns anos um livrinho intitulado Poemas de Amor do Antigo Egipto, escolhidos por Ezra Pound e Noel Stock, contendo poemas entre 1567 e 1085, antes de Cristo.

Por obra e graça de mão amiga lancei-lhe as garras, à espera de uma manhã bem passada, a espreitar pelo ombro dos antigos amantes egipcíos enquanto a chuva, lá fora, aumentava a sensação confortável de expectativa literária e sentimental.

 

Embora alguns textos sejam interessantes, falta-lhes a textura dos sentimentos. Ao que parece, os egipcíos preferem as metáforas associadas aos aspectos muito práticos da vida, como seja:

 

Ela é uma coleccionadora de homens.

Tão eficaz como o colector de impostos e o seu laço

Perseguindo o gado de qualquer pobre lavrador.

(pág. 60)

 

 

 

À parte estes pormenores estéticos, é assombroso que tenha passado pela cabeça do colector dos poemas (no caso, parece ter sido Noel Stock) considerar como um poema de amor e pespegá-lo no capítulo das Frases Delicadas, isso mesmo, Frases Delicadas, este naco de excelsa poesia:

 

Recuso tolerar os seus insultos.

Fez-me esperar horas à porta quando a fui ver

E quando finalmente apareceu, ela

Nem sequer disse boa noite, a reles puta.

Deus meu, como está mudada.

Não quer passar a noite comigo.

Nem sequer me dirige a palavra.

(pág. 62)

Qui | 10.01.08

[64] Viagem ao centro de uma pessoa

polosul

 

Ian McEwan explora até o tutano algumas personagens em Expiação. Já não me lembrava de ler com tanta profundidade e eficácia sobre os universos internos de pessoas inventadas. Nós vemos e sentimos as hesitações, as decisões, os afectos e os olhares de cada uma daquelas personagens.

 

Depois também nos deixa espreitar a experiência intelectualizada de uma adolescente que escreve e descreve ficções que são a projecção das suas ansiedades.

 

Finalmente, porventura substituindo-se a uma Briony fantasiosa e imatura, escreve na página 114:

 

 

«Presa entre o desejo de escrever um registo simples das suas experiências desse dia e a ambição de fazer com elas algo superior, polido, contido e obscuro, ficou sentada durante longos minutos, a olhar de testa franzida para a folha de papel com a citação infantil e não escreveu mais nada. Achava que conseguia descrever bastante bem as acções e tinha jeito para diálogos. Sabia descrever bosques no Inverno e o aspecto sinistro de um castelo. Mas como relatar sentimentos?»