[56] Leve, levezinho
O título é estranho ("Por favor, não matem a cotovia"), pressagia uma qualquer crueldade para com os animais, à mistura com umas velhinhas ciosas dos seus gatos gulosos e cães a salivar por carninha de pássaro. Mas não é o caso.
As sinopses e resumos falam sempre da questão da justiça e racismo. Mas o que surpreende naquela prosa é a simplicidade de meios e recursos, o desenrolar cadenciado e tenso da história, a perspectiva infantil dos acontecimentos que leva a dividir o mundo entre o bem e o mal, que se torna mais complexo à medida que a criança-narradora vai descobrindo que o mal tem aspectos positivos e o bem está repleto de perversidades. Entrementes, a própria criança vai descobrindo as suas contradições e vai arrumando-as de modo a causarem-lhe o mínimo de engulhos e contratempos. E só depois aparece descarnada a magna questão da justiça.
É um livro perigoso porque nos rouba o sono.