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pólo sul

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Dom | 27.05.07

[53] Leituras nocturnas

polosul

 

«não será que até as coisas inúteis têm cabimento neste mundo longe-de-ser-perfeito? Se desta vida imperfeita eliminássemos tudo o que é inútil, a imperfeição deixaria ela própria de fazer sentido.» (p. 10)

 

Sobre literatura: «Uma verdadeira história requer uma espécie de baptismo mágico capaz de ligar este mundo ao outro.» (p. 24)

 

Miu a ser sincera para Sumire: «Nesta fase da tua vida, e mesmo que dediques dia e noite ao teu romance, não creio que consigas escrever alguma coisa de jeito - disse Miu, num tom calmo mas firme. - É óbvio que tens talento e estou certa de que um dia serás uma escritora extraordinária. Não digo isto por dizer, acredito sinceramente nisso, mas ainda não estás preparada. Ainda não reuniste forças para abrir essa porta. Nunca tiveste essa sensação?» (p. 47)

 

Citando Groucho Marx: «Ela está tão apaixonada por mim que não quer saber de mais nada. É por isso que está apaixonada por mim.» (p. 81)

Dom | 27.05.07

[52] Na piscina...

polosul

…ou de como se pode gostar ou não de gordos. Ou ainda, de como se pode gostar de uma coisa por uma razão e não gostar por outra:

 

Hoje fui à piscina e a constatei que malta reentrou com força… e peso! Os gordos e gordas deram o corpo ao manifesto das promessas do longíquo Fim-de-Ano ou Ano Novo. E lá andavam, quais anafadas alforrecas de ar marítimo bem-disposto! Não há nada como um gordo para a risota, bem melhor do que aqueles meninos e meninas de corpos irrepreensíveis, armados em carapaus de corrida, a dispararem pela olímpica acima e abaixo como se fossem uns torpedos e sem respeito por ninguém!

 

Os gordos, por sua vez, apesar do ar pungente e concentrado de quem tem que cumprir uma promessa, são a placidez de quem vai a tempo, o descaso de quem tem tempo, o sorriso de quem não tem nada a provar que não a si mesmo e aos amigos que calçaram as pantufas àquela hora

 

Foi com alívio que verifiquei uma variação na fauna da piscina, repleta de seres vagarosos, tão diferente da fúria duns tubarões imberbes. Mas o gostar foi de pouca dura, pois o espaço que eles ocupam é muito, a inexperiência é grande e a piscina é curta e estrita. Resumindo e concluindo: simpatizo com os gordos, em todos os lados, excepto na pista da piscina onde estou a nadar.

Sab | 12.05.07

[51] Fast-forward

polosul

 

Depois de ler este, vertiginosamente, dei comigo a querer ler outro.

E seguiu-se este:

 

 

Uma vez que estava lançado, atirei-me ao seguinte:

 

 

E concluí que o tempo é impiedoso. Os tempos não estão para filosofias baratas ou metafísicas demoradas. O tempo é de aceleração e actualização. Mas o que me fez ler todos estes livros foi a ansiedade de ler depressa e bem, e saborear a invejável capacidade narrativa de quem sabe que um dos maiores desafios de quem escreve é o de manter o leitor suspenso e a desejar, por entre muitos bocejos, que amanhã seja Domingo.

Sab | 12.05.07

[50] Ler por ter dó

polosul

 

Este livro foi lido porque já metia dó. É um livro pequeno, de páginas amareladas, a suplicar do seu canto para ser aberto e ter um destino. Quando o acabei de ler procurei outro livro de Caldwell e deparei-me com a Estrada do Tabaco:

 

 

 

Ambos são pequenos, escritos numa letra miudinha, repletos de problemas humanos e narrados de forma simples e realista.

Quem disse que os americanos não eram capazes de serem realistas?

São livros que fariam as delícias de qualquer adolescente deslumbrado com Steinbeck. E já agora, como achega, dariam muitos argumentos aos detractores da sociedade americana.

 

Depois de lidos, estão esquecidos. Quer dizer, a última crónica de Lobo Antunes na Visão (10.05.07) deixa marcas: «Vão fazer três anos que o meu pai morreu e ainda não cessou de mudar dentro de mim» e segue por aí fora. Porém, enquanto aqueles livros não deixam um lastro de significações que fixam ou alteram uma vida, as histórias de Lobo Antunes, que também não fixam ou alteram seja o que for, estão escritos de forma a alterarem a consciência da vida.