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pólo sul

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Sex | 20.10.06

[40] O amigo

polosul

O que mais gosto nos amigos é eles serem diferentes. E essa diferença manifesta-se imediatamente num plural insuspeito - amigos - escondendo que uma parte apreciável deles é composta por amigas. Importa ressalvar que não tenho e nunca tive amigos coloridos... Sou moderno e descomplexado, mas confesso que me mantenho fiel a algumas fraquezas...

A diversidade étnica, etária, cultural, profissional, económica, linguística e política agradam-me sobremaneira. Sinto-me tanto mais amigo das pessoas quanto mais são diferentes de mim. Não espero tudo deles, porque ninguém é tudo; e também me parece que não esperam muito de mim, porque as minhas limitações são demasiado óbvias. E como sei que eles estão conscientes destes meus limites, alegra-me que percebam que nunca poderei dar-lhes muito porque eu não valho muito mais do que estas linhas.

Escolho uns amigos para os momentos maus, outros para os bons, sendo que o bom e o mau nem sempre são assim tão maus ou bons. Depende do amigo com que se fala. E também já aconteceu o mesmo amigo servir para as boas e más notícias.

Não espero uma amizade incondicional, pois a minha nunca o foi. Se eles não me querem, como posso eu algumas vez querê-los? É possível, mas muito difícil, confessem lá!

Há aspectos que valorizo mais nuns amigos do que noutros; há qualidades que aprecio mais nuns do que noutros e há defeitos que suporto em alguns e detesto noutros. E a vice-versa também é verdadeira.

Àparte todas aquelas coisas, há um sentimento que me é valiosíssimo - a confiança. Confio em todos, mas confio mais nuns do que noutros em razão da matéria. E a matéria de que falo é vaga e indefinível, porém, a primeira de entre todas. Não uma palavra ou expressão que se fixe nestas linhas, mas algo que se exemplifica dizendo que se traduz num fazer pelo bem que nos faz, a mim e a ele, o sentir-se bem apenas porque se faz. E a certeza de que se faz o melhor possível.  E é o que sinto. Uma absoluta e total confiança nele.

Se algum dia perder esse amigo, perco uma das poucas vidas que tenho. Se ele algum dia desaparecer, se algum dia sentir que ele já não está por ali, naquela casa com vista para a serra, esvaziam-se algumas das minhas certezas, desaparecem algumas das razões para viver, quase se esgota o filão desta minha sede de viver.

Perdê-lo equivale a perder um filho, uma irmã, um pai.

Quase igual a uma mãe. 

Sex | 06.10.06

[39] A procura

polosul

«Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.»

 

Almada Negreiros, “Obras completas, Vol. III – Artigos no Diário de Lisboa"