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Nós prometemos.
Enlaçámo-nos um no outro e prometemos que nada nem ninguém se atravessaria no nosso caminho. Naquele tempo sentimos que era tudo tão verdade, tão definitivamente verdadeiro. Como quando olhamos esta montanha e ela, perene e eterna, garante que sempre estará por ali.
A nossa promessa era uma colina. Não haveria luxúria nem baixeza que nos tentasse e a derrubasse. Quem diz colina, diz cordilheira, Sol, mar e sei lá que mais.
Tudo, mas mesmo tudo, era eterno. Mas depois os sentimentos foram-se e o tempo foi-nos surripiando palavras. Primeiro foi "amor", depois foram os diminutivos, os "inhos", os "necas"; deixámos de nos tocar e de cheirar. Quando demos por nós a dizermos que tínhamos que conversar e não conversávamos; quando finalmente reparámos que o "se faz favor" tinha desaparecido; quando comprámos mais um computador para estarmos no messenger e conversarmos com os nossos amigos depois de deitarmos as crianças; quando deixámos de conversar estupidamente na cama e passámos a falar de coisas sérias e repletas de recriminações; quando sentimos que o nosso sexo era um misto de dever e de alívio...
Quando, enfim, deixei de te ouvir e apenas pensar que tinha de acabar, sair dali e desaparecer, concluí, tarde, que uma promessa só vale no momento em que é feita.
«como é possível governar-se para viver sem a leitura? Deixar de escrever pode ser a loucura, o caos, o sofrimento; mas deixar de ler é a morte instantânea. Um mundo sem livros é um mundo sem atmosfera, como Marte. Um lugar impossível, inabitável. (...) Um leitor tem a vida muito mais longa do que as outras pessoas porque não morre até acabar o livro que está a ler. (...) É que a morte também é leitora, por isso aconselho a que andem sempre com um livro na mão porque, quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler, tal como eu faço no autocarro, e distrai-se.»
Rosa Montero, “A louca da casa”, p.126.
«O beijo durou todo o filme, mas não nos beijámos exclusivamente na boca. Ele foi descendo com uma sabida lentidão pelo meu pescoço, lambeu-me desde o queixo até aos mamilos, onde esteve alguns minutos num gozo interminável. Pouco depois, ainda mais ligeiro, avançou desde os seios até às costelas e daí ao umbigo, e com a ponta da língua fez alguns estragos no meu ventre, que parecia agitar-se como numa dança persa. (...) Depois, com os dedos compridos, apartou os pêlos e o meu clítoris reluziu assim vermelho e rijo. E foi aí que estampou muitos beijos que o consagraram para a eternidade como o nobel do cunilinguismo. (...) Quando ele se despiu, o seu corpo grego deixou-me pasmada, boquiaberta, toda babada. As costas ligeiramente mais largas do que as ancas, puro lombinho fumado (...) Umas ancas estreitas, nádegas perfeitas e lisas, a penugem a surgir das extremidades e depois os músculos. Uns músculos salientes, musculosos, pernas tensas, tornozelos grossos, pés elegantíssimos e muito bem proporcionados (...) O pescoço na proporção exacta, nem muito grosso, nem muito largo. (...) Olho-o como uma estranha obra de arte por fora e por dentro, porque é muito terno, paciente e calmo.» Zoé Valdés, “O nada quotidiano”, p. 128-130
Caí em mim. Para ela apenas contava a escrita e as emoções que suscitava. Estava-se nas tintas para o resto.
Mandei-lhe uma breve nota, a terminar com tudo:
«Se nos apaixonamos com tanta rapidez, talvez seja porque a vontade de amar precede o objecto do amor - a necessidade inventa a sua solução.»
“Ensaios sobre o amor”, Alain de Botton, p. 24
E ela respondeu com o seguinte:
«Caro Senhor, lamento só agora responder à sua missiva. E peço-lhe que releve. Pois foi por uma causa honesta. Fico envergonhada só de o imaginar a escrever todas aquelas coisas! Olho para os meus familiares, amigos, inimigos, fãs e críticos e confesso que jamais me ocorreu ser olhada com essa profundidade. Você escreveu aquilo que eu sou! Apaixonei-me pela sua carta. Li, reli, porventura tresli, rendida à evidência.
Sempre desejei, sabe Deus com que intensidade!, seduzir quem me lê! Sempre sonhei secretamente ser a causa dos ciúmes de todos os maridos e de todas mulheres; desde que me lembro, sempre quis arrebatar quem passava os olhos pelas páginas que um dia escreveria. Sempre pensei, embora nunca o admitisse de viva voz, que seria a causa e o remédio de todos os males. E finalmente, suprema glória e prazer, queria que me amassem. É uma palermice, mas é verdade.
Acabei por admitir duas coisas: que não posso querer sempre mais, sob pena de nunca ter o suficiente; e que nunca conseguirei escrever de forma a conquistar tudo e todos.