«Vês, meu Bebé adorado, qual o estado de espírito em que tenho vivido estes dias, estes dois últimos dias sobretudo? E não imaginas as saudades doidas, as saudades constantes que de ti tenho tido. Cada vez a tua ausência, ainda que seja só de um dia para o outro, me abate; quanto mais não havia eu de sentir o não te ver, meu amor, há quase três dias!»
«Ora, a solidão, ainda vai ter de aprender muito para saber o que isso é, Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós»
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, p. 220.
Gostar dela foi vertiginoso: como não ser atraído por aqueles e-mails arejados, a transbordarem de alegria e poesia, sempre adequados ao tempo e à circunstância!? Como impedir-me de sonhar com aquela escrita inebriante, de pele e perfume de pêssego?
Quem escreve assim só pode ser linda de morrer! Mais, é sensual! Além disso é inteligente e meiga, muito meiguinha.
Já não consigo fazer as vezes do correspondente lacónico e frio; sempre com uma palavra fraterna, atenta e disponível. Já não consigo fazer de amigo assexuado e fingir que não tenho uma vontade enorme de lhe tocar…
Porém, não quero sentir este desejo epidérmico, fujo de me apaixonar e não me quero sentir a amar. Quero que isto faleça e nunca se incendeie. Não quero sofrer e tudo isto rouba-me saúde. Mas quero-a tanto, tanto! Não a amo, mas também não consigo esquecê-la!
Nos últimos tempos tudo isto me causa um sofrimento inútil. E como não suporto mais esta calma de mar morto, vou propor-lhe que acabemos com este acantonamento electrónico e que nos encontremos, pois nunca a vi.