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pólo sul

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Dom | 12.02.06

[15] Passeio

polosul

06215_107.jpg Alberto Caeiro Li hoje quase duas páginas Do livro dum poeta místico, E ri como quem tem chorado muito. Os poetas místicos são filósofos doentes, E os filósofos são homens doidos. Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem E dizem que as pedras têm alma E que os rios têm êxtases ao luar. Mas flores, se sentissem, não eram flores, Eram gente; E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras; E se os rios tivessem êxtases ao luar, Os rios seriam homens doentes. É preciso não saber o que são flores e pedras e rios Para falar dos sentimentos deles. Falar da alma das pedras, das flores, dos rios, É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos. Graças a Deus que as pedras são só pedras, E que os rios não são senão rios, E que as flores são apenas flores. Por mim, escrevo a prosa dos meus versos E fico contente, Porque sei que compreendo a Natureza por fora; E não a compreendo por dentro Porque a Natureza não tem dentro; Senão não era a Natureza.

Sab | 11.02.06

[14] Uma história japonesa de amor

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Era Janeiro, chovia e fazia frio no aeroporto. Koyuki partia. O marido, Tanaka, ficava. Estavam casados há 5 anos. Ela ia para Barcelona, tentar uma nova técnica para conseguir ter filhos. Tanaka ficava em Lisboa porque o dever assim o impunha. Koyuki estava inconsolável, mas silenciosa. O marido tratou de tudo. Na véspera seleccionou a roupa e fez a mala. Na manhã da partida acordou-a, preparou-lhe o banho e o pequeno-almoço. Deu-lhe a mão quando saíram de casa, carregou a mala, encarregou-se do check-in, voltou a dar-lhe a mão, passaram a alfândega e a porta de embarque juntos, e já dentro do avião, depois de a sentar, beijou-lhe a mão, lançou-lhe um olhar terno e foi-se. À saída foi detido. Polícia: «O senhor comprou um bilhete apenas para poder despedir-se dela no avião!? Porquê!?» Tanaka: «Porque a amo.»