[64] Viagem ao centro de uma pessoa
Ian McEwan explora até o tutano algumas personagens em Expiação. Já não me lembrava de ler com tanta profundidade e eficácia sobre os universos internos de pessoas inventadas. Nós vemos e sentimos as hesitações, as decisões, os afectos e os olhares de cada uma daquelas personagens.
Depois também nos deixa espreitar a experiência intelectualizada de uma adolescente que escreve e descreve ficções que são a projecção das suas ansiedades.
Finalmente, porventura substituindo-se a uma Briony fantasiosa e imatura, escreve na página 114:
«Presa entre o desejo de escrever um registo simples das suas experiências desse dia e a ambição de fazer com elas algo superior, polido, contido e obscuro, ficou sentada durante longos minutos, a olhar de testa franzida para a folha de papel com a citação infantil e não escreveu mais nada. Achava que conseguia descrever bastante bem as acções e tinha jeito para diálogos. Sabia descrever bosques no Inverno e o aspecto sinistro de um castelo. Mas como relatar sentimentos?»