Quando um moribundo chama por alguém, o que significa? Não acrescenta outras palavras, apenas exclama o nome, mas do tom desprende-se um apelo. Significa que a mera presença dessa pessoa completa uma série, conclui um puzzle, esclarece um mistério?
O X. gritou por mim toda a noite. Quer-te aqui, disseram.
Para quê? pergunto-me. Eu não salvo, não dou extrema-unção, não alivio dores. Então para quê?
Já lá vai o tempo em que uma pessoa agonizante representava um vislumbre da morte. Sentia alguma curiosidade, inquestionavelmente mórbida, em relação ao espectáculo vivo da acção da morte. Esse deslumbramento já lá vai porque o sofrimento desfez dúvidas sobre a crueza da morte.
Hoje, desejo que a dor seja um pequeno artigo de jornal. Com princípio, meio e fim. Com o tempo indispensável para nos inteirarmos dos factos e despedirmos dos próximos. Vinha a dor e logo sobrevinha o fim. Mas não é possível.
Ele gritou o meu nome. Aflito, umas vezes, reivindicativo, outras, mas sempre bondoso. E é incapaz de explicar porque chama por mim...
Chamamos de mistérios tudo aquilo que não entendemos. E não entendemos a Morte porque nos dói entender.
O X. grita por ti porque tem saudades tuas, tem saudades do carinho e da alegria que sentia quando estava contigo, porque no seu subconsciente estás lá em forma de amor e bem-estar, porque o inconsciente vai buscar o alívio que os medicamentos não conseguem.
A tua presença não vai salvar o físico do X., mas vai acalmar a sua alma, mesmo que aos teus olhos não pareça.
Pode apenas ser um apelo ao alívio da dor personalizado na tua pessoa, por seres quem és, por seres intrinseco ao que de bom ele ainda se recorda e quer manter.
Ele precisa agora do calor da tua mão... mesmo que te seja tão penoso, faz isso, por ele e por ti.
Força, meu caro PoloSul, porque vais precisar de muita - de novo!