[139] Poesia, Daniel Faria
A edição, é justo assinalar, coube a Vera Vouga, e a apresentação do livro pode ser lida aqui.
Para quem não esteja familiarizado com Daniel faria, diria que à poesia dele se poderia aplicar o título (nesta coletânea, um capítulo) da p. 115: Homens que são como lugares mal situados.
De seguida, apontaria para a p. 49, como que a resumir o que aquilo significa:
A pedra tem a boca junto do ouvido
E para dentro de si mesma sem cessar se diz. (…)
Pesa-me no bolso
E na cabeça.
Não é um pensamento.
É uma ideia ensimesmada. Uma pedra fechada
Pelo lado de dentro
Sim, eu sei, é uma perspetiva. Há outras, mas a minha é como esta (p. 74):
O homem lança a rede e não divide a água
O pobre estende a mão e não divide o reino
Um livro de poesia é como outro qualquer onde tenham sido escritas palavras, o que tem de diferente é a sua fala (p. 175):
Falo daquilo que vejo, embora possas pensar que sou um cego
seguindo as mãos – sim, toco as palavras nas suas superfícies
e utensílios. (…)
Sim, agora vejo que falo, embora possas pensar que sigo pelo tacto a escrita.
Sim, eu leio e decifro. E agora sei que oiço as coisas devagar.
E não, isto não é para gente mole (p.34):
Como doem as árvores
Quando vem a primavera
E conclui (p. 442), admiravelmente, em Diário:
Seja o que for
Será bom.
É tudo
p.s.: Daniel Faria morreu com 28 anos.