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pólo sul

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Qui | 11.11.21

[139] Poesia, Daniel Faria

polosul

A edição, é justo assinalar, coube a Vera Vouga, e a apresentação do livro pode ser lida aqui.

daniel faria poesia.jpg

Para quem não esteja familiarizado com Daniel faria, diria que à poesia dele se poderia aplicar o título (nesta coletânea, um capítulo) da p. 115: Homens que são como lugares mal situados.

De seguida, apontaria para a p. 49, como que a resumir o que aquilo significa:

A pedra tem a boca junto do ouvido

E para dentro de si mesma sem cessar se diz. (…)

Pesa-me no bolso

E na cabeça.

Não é um pensamento.

É uma ideia ensimesmada. Uma pedra fechada

Pelo lado de dentro

 

Sim, eu sei, é uma perspetiva. Há outras, mas a minha é como esta (p. 74):

O homem lança a rede e não divide a água

O pobre estende a mão e não divide o reino

 

Um livro de poesia é como outro qualquer onde tenham sido escritas palavras, o que tem de diferente é a sua fala (p. 175):

Falo daquilo que vejo, embora possas pensar que sou um cego

seguindo as mãos – sim, toco as palavras nas suas superfícies

e utensílios. (…)

Sim, agora vejo que falo, embora possas pensar que sigo pelo tacto a escrita.

Sim, eu leio e decifro. E agora sei que oiço as coisas devagar.

 

E não, isto não é para gente mole (p.34):

Como doem as árvores

Quando vem a primavera

 

E conclui (p. 442), admiravelmente, em Diário:

Seja o que for

Será bom.

É tudo

 

p.s.: Daniel Faria morreu com 28 anos.