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pólo sul

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Ter | 17.08.21

[133] A máquina do tempo, H.G. Wells

polosul

A Máquina do Tempo foi a primeira obra publicada por H.G. Wells, em 1895.

Li a versão traduzida para português (Ricardo Saló), sob a chancela do Círculo de Leitores, edição de junho de 1990, cuja capa dura é um hino ao mau gosto, só explicável por uma crise de inspiração do ilustrador ou de quem lhe ordenou fazer aquela capa. Aproveitaram uma cena da adaptação cinematográfica (1960) do realizador George Pal, tendo como protagonistas Rod Taylor e Yvette Mimieux, um duo que lembra o Ken e a Barbie a contracenarem num cenário abonecado dos anos 60.

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Hoje em dia, passadas muitas décadas de livros, televisão e cinema sobre ficção científica, é difícil imaginar alguém a ler este livro que não seja apenas pelo seu interesse histórico, sendo considerado por muitos a obra precursora ou, pelo menos, uma das pioneiras, da ficção científica, e logo sobre um tema recorrente da ficção científica – o Tempo.

O livro, ou melhor, a história, desenrola-se entre a viragem do século XIX para o XX, e um salto, na tal máquina, para o ano de 802701. Isso mesmo, para o ano oitocentos e dois mil e setecentos e um!

Não há motivos para ansiedades, sejam elas quais forem, pois o narrador assegura que, “Tanto no vestuário como em todas as diferenças de textura e atitude que atualmente distinguem os sexos, aqueles indivíduos do futuro eram iguais.” (p. 48) No entanto, a paz e a segurança que esses novos tempos trouxeram, além da arte e do erotismo, engendraram a “indolência e o declínio.” (p. 54) Por conseguinte, o que já se sabia em 1900 observou-se no ano de 802701, sendo que nesse adiantadíssimo ano também já ocorria o fenómeno linguístico que já se observa hoje em dia, embora parcialmente, o “idioma era notavelmente simples – composto quase inteiramente de substantivos e verbos concretos. Dava a impressão de que havia poucos, ou mesmo nenhum, termos abstratos, ou raro recurso às formas metafóricas. As frases revelavam-se usualmente simples e de duas palavras” (p. 63).

Apesar da extensão reduzida do romance (ou novela, não sendo este o local ou momento para escolher), H.G. Wells tem espaço para expor uma tese sobre a dialética do processo histórico da luta de classes na p. 77.

O livro publicado pelo Círculo de Leitores vem com um bónus – um pequeno conto de Wells intitulado "O Homem que podia fazer milagres". Dava para outro romance!