[131] Relato de um náufrago
Este livro, ou melhor, esta coletânea de artigos publicados no diário El Espectador de Bogotá, em 1955, da autoria do então jornalista Gabriel García Márquez, lê-se sofregamente. Foi difícil parar de ler a narrativa na primeira pessoa e simultaneamente perguntar-me o que faria se estivesse no lugar de Luis Alejandro Velasco, o náufrago, que chegou a dar-se por derrotado:
"Em todos os momentos tentei defender-me. Sempre encontrei um recurso para sobreviver, um ponto de apoio, por insignificante que fosse, para continuar à espera. Mas ao sexto dia já não esperava nada. Eu era um morto na balsa." (p. 66-67)
Aqui não há problema contar o fim da história, porquanto o título do livro assinala de imediato que alguém sobreviveu a um naufrágio. Pode-se, por isso, fazer eco da surpresa dele:
"Nunca julguei que um homem se convertesse num herói por estar dez dias numa balsa, suportando a fome e a sede. Eu não podia fazer outra coisa. (...) Eu não fiz qualquer esforço para ser herói. Todos os meus esforços foram para me salvar." (p. 117).
Na último parágrafo do livro, o náfrago ou Garcia Márquez ou seja lá quem for, remata as crónicas da seguinte forma: "Algumas pessoas dizem-me que esta história é uma invenção fantástica. Eu pergunto-lhes: então o que é que eu fiz durante os meus dez dias no mar?"