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pólo sul

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Ter | 10.08.21

[131] Relato de um náufrago

polosul

Este livro, ou melhor, esta coletânea de artigos publicados no diário El Espectador de Bogotá, em 1955, da autoria do então jornalista Gabriel García Márquez, lê-se sofregamente. Foi difícil parar de ler a narrativa na primeira pessoa e simultaneamente perguntar-me o que faria se estivesse no lugar de Luis Alejandro Velasco, o náufrago, que chegou a dar-se por derrotado:

"Em todos os momentos tentei defender-me. Sempre encontrei um recurso para sobreviver, um ponto de apoio, por insignificante que fosse, para continuar à espera. Mas ao sexto dia já não esperava nada. Eu era um morto na balsa." (p. 66-67)

náufrago.jpg

Aqui não há problema contar o fim da história, porquanto o título do livro assinala de imediato que alguém sobreviveu a um naufrágio. Pode-se, por isso, fazer eco da surpresa dele:

"Nunca julguei que um homem se convertesse num herói por estar dez dias numa balsa, suportando a fome e a sede. Eu não podia fazer outra coisa. (...) Eu não fiz qualquer esforço para ser herói. Todos os meus esforços foram para me salvar." (p. 117).

Na último parágrafo do livro, o náfrago ou Garcia Márquez ou seja lá quem for, remata as crónicas da seguinte forma: "Algumas pessoas dizem-me que esta história é uma invenção fantástica. Eu pergunto-lhes: então o que é que eu fiz durante os meus dez dias no mar?"