[129] A invenção de Adolfo Bioy Casares
A invenção de Morel, de Bioy Casares, conta com um prefácio de valor incalculável, quer pelo autor - Jorge Luís Borges - quer pelo seu teor, especialmente do último parágrafo: "Discuti com o autor os pormenores do enredo, reli-o; não me parece uma imprecisão ou hipérbole classificá-lo de perfeito."
Teria aquela frase de Borges algo que ver com o entusiamo de Morel, quando admite o impensável, como seja a "influência do futuro sobre o passado" (p. 56)?
O que dizer de um personagem, também ele narrador, que diz "Nada esperar da vida, para nada arriscar; dar-me por morto para não morrer"? (p. 36) e mais à frente, admitindo fraquezas da sua memória, afirma, candidamente: "Temi que esta descoberta fosse apenas efeito de alguma fraqueza das minhas recordações, ou da comparação de uma cena real com uma simplificação feita de esquecimento." (p. 57) Lapidar!
Mas o melhor, a propósito dos jogos entre o passado e o futuro, entre a essência e a contigência, entre o vento e água, o melhor, dizia, pode estar aqui, não para todas, mas certamente para algumas pessoas: "Não me matarei para já. Habituei-me a ver as minhas teorias mais lúcidas desfazerem-se no dia seguinte, ficarem como provas de uma assombrosa combinação de inaptidão e entusiasmo (ou desespero). Talvez a minha ideia, uma vez passada a escrito, perca a sua força." (p. 129).