[121] Caderno de Memórias Coloniais
Este livro merecia mais páginas. Este caderno é curto. Suspeito que algures haverá um baú com muito mais.
Uma vez, quando ia de autocarro com a minha mãe, também me aconteceu (mais ou menos) isto:
"Uma revelação, um milagre: num segundo, sem explicação, li alto, e de uma só vez, a publicidade pintada nas laterais dos prédios, «Singer, a sua máquina de costura; beba Coca-Cola; Pilhas Tudor (...)." (p. 59)
A A. disse ao pai que já sabia ler. Eu disse à minha mãe. Ela sorriu e deu-me um beijinho na testa.
Podemos ler sobre a A., ou sobre o que podemos presumir ser dela; sobre a relação com o pai (a entrevista no final do livro esclarece); sobre a relação entre brancos e negros; e espreitar uma nesga da vida em Lourenço Marques, ou melhor, em Maputo, sendo certo que:
"Presos na sua certeza absoluta, nenhum admitirá a mentira que edificou para caminhar sem culpa ou caminhar, apenas." (p. 115)