Acordou e começou a pensar febrilmente, como só acontecia quando as preocupações o atormentavam, tal como agora, depois dela lhe ter confessado, entre lençóis, de que ele é um menino embirrento.
Acordou a pensar na acusação de que era ele quem lançava a semente do desencanto sobre um amor que deveria prevalecer sobre todas estas coisas.
Culpa-a por lhe apontar os defeitos; acusa-a de lhe dificultar a vida; censura-a por querer que ele pense nos seus comportamentos; acha-a insuportável porque ela começou a reparar que ele é problemático.
Pouco depois, alguém disse que já não tinha paciência. Ele ouviu-a. Não tinha paciência. E ele a ouvir. De seguida disse que se sentia sozinha. E ele à escuta, de nuca arrepiada, a procurar surpreender uma decisão definitiva e cerce.
E a criança que havia nele reapareceu, chocada e aterrorizada, arrependida dos milhentos esquecimentos, desleixos, descuidos e distracções, nos incontáveis processos de intenção, juízos precipitados, nas consequências de ser perdulário, de não atender, de não retribuir, de não ser sensível.
Mas já era tarde.
nortadas
Sarasvati
29.09.06
Se "já era tarde" é porque arrastaram uma situação condenada à muito. Infelizmente, é o que acontece. Depois vive-se numa mentira para manter a vã glória da: relação dita estável, duradoira e cumpridora das promessas. Quando há filhos, então, esses são quem acabam sempre por sofrer mais... e nem imaginamos nós quanto.
Mentira é um atrofio à felicidade. Demonstra imaturidade e falta de carácter. Eu apelo à honestidade, respeito e amizade como principios essenciais a uma boa relação, a uma relação feliz e saudavel: seja ela amorosa ou de que natureza for.
Por vezes temos que sofrer para crescer, para perceber onde está o que é melhor para nós. Custa, custa muito, mas mais vale um corte pela raiz do que esvair em infimos suspiros de dor.
Depois da tempestade vem sempre a bonança. Sempre.