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pólo sul

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Ter | 26.09.06

[38] Tarde de mais

polosul

Acordou e começou a pensar febrilmente, como só acontecia quando as preocupações o atormentavam, tal como agora, depois dela lhe ter confessado, entre lençóis, de que ele é um menino embirrento.
Acordou a pensar na acusação de que era ele quem lançava a semente do desencanto sobre um amor que deveria prevalecer sobre todas estas coisas.
Culpa-a por lhe apontar os defeitos; acusa-a de lhe dificultar a vida; censura-a por querer que ele pense nos seus comportamentos; acha-a insuportável porque ela começou a reparar que ele é problemático.
 
Pouco depois, alguém disse que já não tinha paciência. Ele ouviu-a. Não tinha paciência. E ele a ouvir. De seguida disse que se sentia sozinha. E ele à escuta, de nuca arrepiada, a procurar surpreender uma decisão definitiva e cerce.
 
E a criança que havia nele reapareceu, chocada e aterrorizada, arrependida dos milhentos esquecimentos, desleixos, descuidos e distracções, nos incontáveis processos de intenção, juízos precipitados, nas consequências de ser perdulário, de não atender, de não retribuir, de não ser sensível.
 
Mas já era tarde.

nortadas

Nortadas