[37] A promessa
Nós prometemos.
Enlaçámo-nos um no outro e prometemos que nada nem ninguém se atravessaria no nosso caminho. Naquele tempo sentimos que era tudo tão verdade, tão definitivamente verdadeiro. Como quando olhamos esta montanha e ela, perene e eterna, garante que sempre estará por ali.
A nossa promessa era uma colina. Não haveria luxúria nem baixeza que nos tentasse e a derrubasse. Quem diz colina, diz cordilheira, Sol, mar e sei lá que mais.
Tudo, mas mesmo tudo, era eterno. Mas depois os sentimentos foram-se e o tempo foi-nos surripiando palavras. Primeiro foi "amor", depois foram os diminutivos, os "inhos", os "necas"; deixámos de nos tocar e de cheirar. Quando demos por nós a dizermos que tínhamos que conversar e não conversávamos; quando finalmente reparámos que o "se faz favor" tinha desaparecido; quando comprámos mais um computador para estarmos no messenger e conversarmos com os nossos amigos depois de deitarmos as crianças; quando deixámos de conversar estupidamente na cama e passámos a falar de coisas sérias e repletas de recriminações; quando sentimos que o nosso sexo era um misto de dever e de alívio...
Quando, enfim, deixei de te ouvir e apenas pensar que tinha de acabar, sair dali e desaparecer, concluí, tarde, que uma promessa só vale no momento em que é feita.